“Os botos terão mais um momento de fôlego”, diz pesquisadora sobre prazo da moratória da pesca de piracatinga

Até 7 mil botos eram mortos por ano no Amazonas, para serem utilizados como isca para a pesca da piracatinga, antes da moratória interministerial que teve o prazo estendido para mais um ano nesta segunda-feira (15) pela Secretaria de Aquicultura e Pesca

Por Fernanda Farias – Ampa

Foto: Acervo AMPA

A moratória da pesca da piracatinga, que proíbe a pesca e comercialização do peixe-liso conhecido como piracatinga ou urubu d´água, teve o prazo ampliado para mais um ano pela Secretaria de Aquicultura e Pesca do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A instrução normativa publicada nesta segunda-feira (15) no Diário Oficial da União, vale para todo território nacional e um dos incisos é avaliar a recuperação das espécies que eram utilizadas como iscas nessa pesca, o boto-vermelho (Inia geoffrensis), tucuxi (Sotalia fluviatilis) e jacarés (Caiman crocodilus e Melanosuchus niger).

Segundo a normativa, assinada pelo secretário Jorge Seif Junior, durante esse período de um ano, a Secretaria de Aquicultura e Pesca, junto a outras instituições governamentais, deverá identificar técnicas e métodos ou alternativas produtivas ambiental, econômico e socialmente viáveis e sustentáveis para o exercício e controle da atividade pesqueira da piracatinga (Calophysus macropterus).

Matança de boto-vermelho – Denúncia da Imprensa

Permanece a liberação da pesca para pesquisa científica e também para pesca de subsistência, o pescador poderá capturar até cinco quilos de piracatinga para consumo da sua família.

Para a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) e Coordenadora do Projeto Mamíferos Aquáticos da Amazonia Vera da Silva, com a diminuição da matança de botos essas espécies podem ter um fôlego a mais.

“O boto-vermelho, por exemplo, tem uma reprodução lenta e se há a retirada em excesso dessa espécie da natureza a tendência é colapsar. Se o boto-vermelho desaparecer daqui da região amazônica, ele desaparece do mundo”, explica a bióloga doutora em Ecologia e Reprodução de Mamíferos pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Pesquisadores do AMPA / INPA durante captura de botos para coleta de material biológico, marcação, biometria e coleta de outros dados do Projeto Botos do Rio Negro. O projeto foi realizado na comunidade São Thomé – Amazonia – Brasil. Foto: Jonne Roriz/AMPA

Moratória

O Ministério Público Federal (MPF), em 2012, por meio da Procuradoria da República no Amazonas (PR-AM), tomou como base denúncias recebidas pela imprensa para instaurar inquérito civil público com a finalidade de investigar a matança de botos que eram utilizados como isca. O MPF solicitou então ao Ministério Meio Ambiente e ao Ministério de Pesca e Aquicultura que realizassem os estudos necessários para a elaboração do instrumento normativo. Em 2015, uma decisão interministerial do MMA e MPA decretou a moratória de cinco anos para a pesca da piracatinga, de janeiro de 2015 até janeiro de 2020.

Peixe-liso conhecido como piracatinga ou urubu d´água

Antes do estabelecimento desta moratória, cerca de sete mil botos-vermelhos eram mortos por ano para uso na pesca da piracatinga. “Isso acabou reduzindo drasticamente a população dessa espécie que só encontramos nos rios da Amazônia”, comenta Silva que pesquisa a população de botos-vermelhos há mais de 25 anos no Projeto Boto realizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Mamirauá, Amazonas.

Boto-vermelho

O boto-vermelho também conhecido como boto-cor-de-rosa, é uma espécie endêmica do bioma Amazônico e é o maior golfinho de água doce do Planeta, podendo viver até 50 anos. É considerado também um dos animais mais importantes do folclore brasileiro.

Com a diminuição da matança de botos a espécie pode ter um fôlego a mais.

Por conta dos anos de caça ilegal e outras ameacas, esta espécie, hoje encontra-se na Lista Vermelha (Red List) da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) na categoria ‘em perigo de extinção’, duas classificações antes de “extinto”.

Para alertar a população sobre a situação da espécie, foi criada a  Campanha Alerta Vermelho, idealizada pela Ampa e tem a parceria do Inpa, MPF, ICMBio, Ibama, Ipaam, IUCN, e o Instituto Anahata. Acesse alertavermelho.org.br e saiba mais.