“Um dos principais indicadores desse sucesso foi a adaptação dos animais, que foram soltos ano passado, e sobreviveram a maior seca já registrada na Amazônia, ocorrida no ano passado”, explica o biólogo Diogo de Souza
Por Fernanda Farias – Assessoria Ampa
O sucesso do Projeto Peixe-boi Balbina, uma cooperação entre a Eletrobras Eletronorte e a Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa), foi avaliado pela equipe técnica que indicaram como principais indicadores positivos a sobrevivência dos cinco peixes-bois soltos no rio Uatumã, e a recuperação de animais do cativeiro.
De acordo com a coordenadora do Projeto, Vera da Silva, programas de solturas de animais realibilitados são fundamentais para a conservação de espécies ameaçadas de extinção.
“O peixe-boi da Amazônia ainda é uma espécie ameaçada de extinção e ao longo dos anos, constatamos que a combinação de solturas de indivíduos na natureza com atividades de educação ambiental nas comunidades humanas locais, é uma ferramenta fundamental e importante para conservar a espécie”, comenta a pesquisadora.
Saúde e recuperação dos animais
Outro importante indicador de sucesso do projeto foi a melhora da saúde dos animais mantidos no cativeiro. A veterinária responsável do Projeto, Daniela Mello, comenta que o monitoramento intensivo realizado pela equipe permitiu identificar e tratar microrganismos patogênicos nos peixes-bois.
“Após meses de acompanhamento especializado, os animais apresentaram melhora significativa na saúde e na condição corporal, com todos os parâmetros dentro da normalidade para a espécie. Com o suporte nutricional ajustado, vários indivíduos passaram a atender aos critérios para uma soltura segura à natureza, promovendo o bem-estar dos animais de outros peixes-bois e das comunidades locais”, afirma a veterinária.
Monitoramento
Cinco peixes-bois foram soltos no rio Uatumã, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (AM) em 2024, e segundo o biólogo responsável pelo projeto, Diogo de Souza, os animais conseguiram se adaptar bem ao ambiente natural, mesmo após passarem, em média, dez anos em cativeiro sob cuidados humanos.
“Um dos principais indicadores do sucesso do Projeto foi a sobrevivência dos indivíduos durante a maior seca já registrada na Amazônia, ocorrida no ano passado. Além disso, os peixes-bois soltos utilizaram os ambientes idênticos e se comportaram como os animais nativos da região, deslocando-se para os poços mais profundos durante a estiagem, e indo para os lagos durante a enchente do rio Uatumã”, enfatiza Souza.
Dados do monitoramento via radiotelemetria relataram que os animais soltos evitaram embarcações e mantiveram distância do contato com humanos. “Do ponto de vista social, o envolvimento das populações locais foi também fundamental para o sucesso da iniciativa. Os próprios comunitários participaram do monitoramento e, em muitos casos, pescadores evitavam colocar redes ou fazer barulho nas áreas onde sabiam que havia peixes-bois, demonstrando um forte senso de responsabilidade e pertencimento ao projeto”.
Educação Ambiental
A participação da comunidade para o sucesso do Projeto é imprescindível, e as atividades de Educação Ambiental é uma das formas de aproximar e educar as pessoas sobre a importância da espécie para o mundo.
“As pessoas das comunidades receberam o projeto com muito carinho e acolhimento, sobretudo as escolas, professoras, professores e estudantes, sempre empenhados em aprender mais sobre o peixe-boi da Amazônia e demonstrando cuidado e atenção aos animais soltos no rio Uatumã”, comenta a educadora ambiental, Renata Almeida.
Em maio de 2024, as escolas da comunidade foram convidadas a produzirem materiais educativos sobre o peixe-boi e a importância pra natureza. “Estamos finalizando a produção de um livro com esses materiais, intitulado “Vozes do Uatumã”, que servirá de informativo e inspiração para professoras, professores e estudantes trabalharem ainda mais pelo cuidado com os peixes-bois no rio Uatumã”, finaliza Almeida.
O Projeto
O Projeto Peixe-boi Balbina é uma parceria da Eletrobras Eletronorte com Ampa e é executado no Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos e Quelônios Aquáticos (CPPMQA), em Balbina (AM).
A área escolhida para a soltura foi o médio Rio Uatumã, dentro da RDS do Uatumã, por ter as características necessárias para a sobrevivência dos peixes-boi.
O peixe-boi da Amazônia
O peixe-boi da Amazônia é uma espécie vulnerável à extinção, segundo a lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) das espécies ameaçadas. Ele é o maior mamífero aquático de água doce e pode medir até três metros e pesar quase 450 kg. São animais de extrema importância para o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos da região.