Peixes-bois de semi-cativeiro se preparam para ganhar liberdade

Desde o último domingo, 12, pesquisadores da Associação Amigos do Peixe-boi – Ampa e do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa/MCTI estão no município de Manacapuru, interior do Estado do Amazonas, distante da capital 68km. O objetivo da expedição é capturar seis, dos onze animais, que estão em um lago fechado de 16 hectares, para avaliação de saúde e possível soltura em 2015. Os animais fazem parte do plantel do Inpa/MCTI e foram levados a esse ambiente em 2010 e 2011.

Essa atividade faz parte do Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia Criados em Cativeiro, realizado desde 2008 pela Ampa e Inpa/MCTI, por meio do Projeto Mamíferos Aquáticos da Amazônia, com o apoio da Petrobras.

Dos seis animais capturados, quatro serão colocados em um lago menor com oito mil metros quadrados, onde será ofertado um volume maior de alimento para que ganhem peso e se mantenham saudáveis nas primeiras semanas em vida livre.

“Essa estratégia é para garantir uma grande reserva de energia já que em outras experiências (2008 e 2009), os animais chegaram a perder cinquenta quilos nos primeiros dias, depois de soltos. No primeiro semestre de 2015, os quatros animais serão soltos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-purus. Importante ressaltar que o semicativeiro é uma etapa inédita na reintrodução de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis)”, explica Diogo Souza, pesquisador-bolsista do Inpa e colaborador da Ampa, responsável pelo Programa de Reintrodução.

Mapixari

A equipe fica em campo até sexta-feira, 17. Já foram capturados quatros animais. Um deles é o peixe-boi macho chamado Mapixari. Ele chegou ao Inpa/MCTI em 2000, com aproximadamente cinco meses de idade, vindo da comunidade Jacitara, município de Maraã (distante da capital do Amazonas 920 km). Ele foi vítima da caça ilegal. Estava magro e com alguns ferimentos, mas logo aceitou a mamadeira e todas as condições do cativeiro, reabilitando-se totalmente. Em 2009, foi selecionado como um dos candidatos aptos para retornar à vida livre. Em abril do mesmo ano da seleção, Mapixari e Xibó (outro peixe-boi solto) foram levados ao Rio Cuieiras (afluente da margem esquerda do Rio Negro), local escolhido para reintrodução. Quatro meses após a soltura, foi avistado dentro do igapó (ambiente característico da Floresta Amazônica, também conhecido como Floresta Alagada). Estava bastante debilitado e abaixo do peso. Ele foi capturado e trazido de volta ao Inpa, onde foi novamente reabilitado e, atualmente, encontra-se bem, saudável e com excelente potencial para as próximas atividades de reintroduções.

“A história de vida do Mapixari é um exemplo e reflete a dificuldade de uma espécie com sérios riscos de extinção sobreviver às ameaças do homem. Nossa sociedade tem a obrigação de preservar o peixe-boi da Amazônia e garantir o futuro dessa maravilhosa espécie para que as próximas gerações desfrutem de um meio ambiente saudável e equilibrado, respeitando todas as formas de vida. Estamos felizes por poder novamente proporcionar ao Mapixari mais essa experiência. Ele lutou pela sobrevivência e merece voltar a viver livre nos rios da Amazônia”, reflete Souza.

Semi-cativeiro

Segundo Anselmo D’Affonseca, veterinário do Inpa, cinco animais que estão em processo de adaptação e aptos para retornar à natureza, vivem neste ambiente. O veterinário esclarece, ainda que na recaptura ocorrida em dezembro de 2012, para acompanhamento do processo de adaptação desses animais, percebeu-se que os peixes-bois estão bem e apresentam grandes chances de sucesso quando forem reintroduzidos ao ambiente natural definitivamente. “O que indica que os animais que forem levados ao semi cativeiro futuramente, também devem progredir de forma positiva até a reintrodução final à natureza”, informa.

Para Souza, os resultados de pesquisas realizadas no Inpa sugerem que peixes-bois da Amazônia mantidos em cativeiro por curtos períodos de tempo, apresentam alta percepção do ambiente natural, e maior habilidade na readaptação a um novo ambiente, reforçando a importância de escolha adequada dos animais para integrar programas de reintrodução com a espécie.

Souza explica ainda que esses resultados podem ser importantes para a conservação dessa espécie, atualmente ameaçada de extinção. “Por se tratar de um projeto em longo prazo, as experiências e resultados acumulados até o momento são extremamente importantes para traçar as diretrizes de manejo e conservação dessa espécie endêmica e vulnerável da Amazônia. A fase de pré-soltura (semi-cativeiro) mostra-se como requisito fundamental para auxiliar a readaptação gradual de peixes-bois da Amazônia, criados em cativeiro, às condições dos rios amazônicos”, ressalta.