O Programa de Reintrodução de Peixes-bois (Trichechus inunguis), patrocinado pela Petrobras e executado pelo Projeto Mamíferos Aquáticos da Amazônia, comemora o maior indicador de sucesso do Programa. Dois animais, um macho e uma fêmea grávida, foram capturados na Reserva Piagaçu-Purus e apresentam excelente quadro de saúde.
Por Aline Cardoso – Ascom Ampa
No início
de 2019, 12 animais foram levados de volta à natureza após passarem pela etapa
de reabilitação no cativeiro do Inpa – Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia. Esta foi considerada a maior soltura de peixes-bois da Amazônia da
história.
Na semana em que esses animais completaram 200 dias pós soltura, a equipe do Projeto voltou a Reserva Piagaçu-Purus, local de soltura, na tentativa de capturar pelo menos um dos sete indivíduos monitorados por radiotelemetria. O objetivo da atividade é avaliar as condições de saúde dos peixes-bois e verificar as condições do cinto transmissor, equipamento que permite acompanhar os movimentos dos animais.
Sobre a operação
A ação, que durou aproximadamente uma semana,
envolveu uma equipe de 12 pessoas, entre biólogos, técnicos, tratadores e
pescadores locais da Reserva Piagaçu-Purus. Utilizando um pequeno barco como
base de apoio, a equipe seguiu pelos lagos de várzea em busca dos animais. A
captura é feita durante o período da vazante dos rios, utilizando redes de
pesca específica para a espécie. Como o espaço aquático diminui e os
peixes-bois ficam confinados em determinadas áreas, existe a possibilidade de
captura dos animais.
O primeiro
animal capturado foi Piraporã, macho juvenil de três anos de idade, um dos mais
jovens a ser solto na natureza. “Ele cresceu cinco centímetros e aumentou 10
quilos de peso. Estamos satisfeitos com esse indicador, pois a disponibilidade de
alimento neste período de vazante do rio é escassa. Mesmo nessa época crítica,
conseguimos avaliar que o animal está bem de saúde, aumentando de tamanho e de
peso”, afirma Diogo Souza, biólogo e responsável pelo Programa de Reintrodução.
O segundo
animal capturado foi a fêmea Baré, que está grávida. Resgatada 16 anos atrás,
ainda filhote, passou pelo processo de reabilitação no cativeiro do Inpa e foi
reintroduzida na natureza em 2018.
“Para a captura da Baré foram necessárias quase quatro horas, pois ela rasgou a rede três vezes. Quando conseguimos trazê-la para a margem já era noite e ficamos surpresos com seu tamanho corporal. Fizemos a biometria bem rápida na margem do lago, ela cresceu 11 cm de comprimento, porém não conseguimos pesar o animal. Quando Baré foi solta na natureza, aproximadamente 1 ano e meio atrás, ela pesava cerca de 170 quilos. Na captura foi estimado que ela esteja pesando mais de 300 quilos”, explica Souza.
“Durante o
processo de avaliação, foram coletadas amostras de sangue para verificar a
condição clínica e principalmente a parte hormonal para confirmar, em laboratório,
a gravidez que os moradores locais da região já haviam suspeitado”, diz Souza.
No âmbito do Projeto existem vários indicadores de sucesso, como a sobrevivência e adaptação dos animais ao pulso de inundação dos rios e ausência de contatos com humanos, por exemplo. No caso de espécies ameaçadas extinção, como é o caso do peixe-boi da Amazônia, o maior e mais importante indicador de sucesso no Programa de Reintrodução é a reprodução das fêmeas.
“Conseguimos
verificar a eficácia das etapas de resgate, reabilitação e soltura. Claramente
o animal está adaptado à natureza, e futuramente vai contribuir para o aumento
da população da espécie. Nossa equipe e todos os moradores das comunidades
ficaram bem felizes com a gravidez da Baré. Isso dá ânimo para continuar com
este trabalho, que é árduo e complexo, mas que atende a uma causa tão nobre”,
comemora o biólogo.
Souza enfatiza o fundamental apoio da comunidade nessa etapa. “Sem esse apoio não faríamos nada. Eles são essenciais para o sucesso do Projeto. São eles que realizam o monitoramento por telemetria dos peixes-bois e conseguem coletar dados inéditos que vão ajudar a propor políticas públicas para conservação”, diz o biólogo, lembrando que são ex-caçadores de peixes-bois que realizam, atualmente, o monitoramento dos animais.
O peixe-boi da Amazônia vive em média 60 anos e só atinge a maturidade sexual, ou seja, só está pronto para se reproduzir com aproximadamente seis anos de idade.
A gestação
da fêmea de peixe-boi da Amazônia dura 12 meses. O cuidado parental da mãe
perdura por aproximadamente dois anos, com o filhote sendo amamentado durante
este período de tempo. É de suma importância manter esses animais no
ecossistema, principalmente as fêmeas. Sem elas a recuperação da população da
espécie fica comprometida.
O Programa
de Reintrodução
O peixe-boi da Amazônia está na lista de animais ameaçados de extinção, principalmente por conta da caça ilegal e captura acidental em redes de pesca. Para reduzir esse risco e contribuir para o restabelecimento da população dessa importante espécie para o ecossistema aquático, foi criado em 2008 o Programa de Reintrodução de filhotes órfãos resgatados e reabilitados no cativeiro do Inpa.
Até o momento, o Inpa já reintroduziu nos rios da Amazônia 35 peixes-bois. Desde 2016, eles são soltos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus, no município de Anori/AM, a 173 km de Manaus, onde as comunidades desta unidade de conservação são parceiras do programa.
O Programa de Reintrodução de peixes-bois é realizado pelo Projeto Mamíferos Aquáticos da Amazônia patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e executado pela Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa), em parceria com o Inpa/MCTIC. O Programa conta ainda com o apoio da Universidade de Quioto (Japão), Itochu, Aquário de São Paulo e Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amazonas (SEMA).